Dance de alegria, filha de Sião. Grite de alegria, filha de Jerusalém, pois agora seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de jumenta. Ele destruirá os carros de guerra (...) e os cavalos de Jerusalém; quebrará o arco de guerra. Anunciará a paz a todas as nações, e seu domínio irá de mar a mar (...) até os confins da terra. (Zc 9,9-10)
Pierre est parmi nous! Pedro está entre nós. Com a alegre notícia da eleição do Sumo Pontífice, toda a Igreja Católica se felicita e se sente grata a Deus, pela ação do Espírito Divino em nossa caminhada pastoral-missionária. Tal eleição se mescla ao feliz anúncio da Ressurreição de Jesus, a qual, nesta terceira semana da Páscoa, canta a alegria da sua misericórdia que “nos torna mais firmes em vossa verdade” [1].
O Pai nos enviou o seu servo Leão XIV para conduzir a barca de Pedro. Frade Agostiniano, vimos que se encontra disposto a continuar o caminho aberto por Francisco, a fim de melhor expressar a tradição viva da Igreja, que se concretiza no amor infinito de Deus, pela humanidade inteira.
Na imagem ilustrativa deste artigo, o Sumo Pontífice aparece montado num pequeno animal, enquanto vivia os dias das Santas Missões Populares Vicentinas, no Peru, onde viveu como bispo. Tal imagem, recorda-nos a profecia de Zacarias, que faz memória ao tempo novo de Deus, ao enviar o Messias Cristo. Em hebraico, a palavra mashiach significa “ungido”, “eleito”, escolhido”, “enviado”.
No capítulo 9, o profeta recorda à Cidade Santa que o eleito do Pai vem para restaurar Israel, com as ferramentas de trabalho que o Pai lhe deu: a humildade, pequenez na dinâmica do amor e cuidado integrais. Por quê? Ao citar o jumento como transporte para ele, Zacarias recorda que o Messias vem anunciar um tempo de paz. Segundo a tradição bíblica, o tempo messiânico seria um período de paz. O cavalo é o animal para a guerra, preferido do Império Romano para impor a sua “pax romana”. A violenta “pax romana”, melhor dizendo. O jumento é transporte dos humildes, dos simples, dos justos, cuja salvação vem de Deus, e não da força, da imposição e da opressão. É bonito e expressivo pensar que Jesus, ao entrar em Jerusalém, escolheu como transporte o jumentinho (Lc 19,28-40) [2]. O humilde Servo Senhor opta pelas coisas simples, para que as pessoas se aproximem d’Ele e experimentem sua compaixão e amor infinitos.
Ele vem a Jerusalém para “salvar o seu povo de seus pecados” (Mt 1,21). E a salvação que vem de Deus é a expressão máxima de seu amor ao renovar a criação, por meio do mistério pascal de seu Filho amado. Jesus quebra a espiral da violência e caminha na contramão das ideologias do Império: integra e não descarta; ajuda os pobres a carregar seus fardos, num fardo leve e suave (Mt 11,28-29); dialoga e não impõe; ama e não oprime; compartilha, não explora; apresenta-se como “Homem da paz”, deixando de lado gestos e sentimentos de violência. Por isso, Ele é proclamado o restaurador de Israel, cuja base para a sua missão é manifestar um Deus “indulgente, favorável, paciente, bondoso e compassivo” (Sl 103[102],8-9).
No seu primeiro discurso, em 8 de maio de 2025, o Papa Leão XIV, iniciou com as seguintes palavras: “Queridos irmãos e irmãs, a paz esteja com todos vós.” O nome do Sumo Pontífice apresenta seu horizonte de trabalho. ‘Leão’ é nome de fortaleza, coragem, ousadia! Uma fortaleza que se manifesta na fraqueza, na pequenez, na sobriedade, em suma, no amor (Jo 13,35).
O Papa Leão, ao escolher este nome, quer mostrar-nos a fortaleza da graça de Deus e a humanidade de sua pessoa, como ‘Vigário de Cristo’ na terra. Ao aparecer na sacada da Basílica de São Pedro, ontem, mostrou-nos a sua humanidade ao conter suas lágrimas. Eleito pela ação do Espírito, mostra-se disponível ao apresentar a grandeza do ministério petrino mesclado à pequenez de sua humanidade – “feita de homens, a Igreja é divina, pois o Espírito Santo a conduz” [3]. Assim como Pedro, assim com Leão XIV.
Durante as atividades das Santas Missões Populares Vicentinas, numa paróquia lazarista, no Peru, escolheu o transporte dos simples, para anunciar a Boa-Nova que vem ao mundo para restaurar, curar, interpelar, impulsionar e ‘vocacionar’ os discípulos de Jesus, para se transformarem na expressão da misericórdia divina, arautos e mensageiros da paz. A conquista da paz foi umas das balizas do ministério de Francisco, e será também de Leão XIV, a nosso ver.
Nós podemos repetir as palavras de Zacarias: "Dança de alegria, filha de Sião. Grita de alegria, filha de Jerusalém, pois agora seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de jumenta. Ele destruirá os carros de guerra (...) e os cavalos de Jerusalém; quebrará o arco de guerra. Anunciará a paz a todas as nações, e seu domínio irá de mar a mar (...) até os confins da terra". Deixemos que o espírito da alegria nos envolva neste tempo de feliz anúncio da Ressurreição e da grata saudade de Francisco. Leão vem a nós como homem justo e vitorioso, porque “o bem prevalecerá”.
A violência dos homens, que se culminou na morte de Jesus, foi calcada pela Vida plena. A Vida sai vitoriosa, e, junto a Jesus ressuscitado, toda a humanidade experimenta a salvação que vem do nosso Deus. O servo eleito anunciou o amor do Pai, segundo o carisma vicentino, montado num jumentinho, cuja primeira expressão, como Bispo de Roma, saúda toda a terra com a paz. Urbi et orbi (à cidade [de Roma] e ao mundo).
Na sua última aparição, Francisco desejou aos fiéis “Buona Pásqua”; Leão XIV repete o gesto de Jesus, quando apareceu, pela primeira vez, aos seus discípulos, que se sentiam tristes pela morte d’Ele, e com medo dos judeus: “A paz esteja com vocês”. Nesta mesma aparição, o Bispo de Roma abençoou a Cidade Eterna e todo o mundo, concluindo, tal qual o Escolhido do Pai, após a saudação do Shalom: “Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês” (Jo 20,19-20). Leão se colocou disponível para anunciar a paz à todas as nações, até os confins da terra, a partir de seu discurso, que foi acompanhado por todos os países do mundo, por inúmeros cristãos católicos e até mesmo por pessoas de outras denominações religiosas.
Vivemos um tempo de graça e de muita esperança, que não decepciona os filhos de Deus (Rm 5,5), que ouviu as nossas muitas preces e as atendeu na eleição do dia de ontem. Peçamos, meus irmãos, a virtude da humildade, a lógica da coerência e a força consoladora da paz, conquistada em meio à muitas dores, mas sempre vitoriosa, segundo as palavras do Sumo Pontífice, “esta é a paz de Cristo ressuscitado, uma paz desarmada, uma paz desarmadora, humilde e perseverante, que provém de Deus. Deus que nos ama a todos, incondicionalmente”. Sigamos perseverantes no caminho da justiça, do direito e da paz, com aquele que, para nós, é Bispo, mas conosco é cristão [4].
Viva Leão XIV!
Notas
[1] Coleta da quinta-feira da terceira semana da Páscoa;
[2] Textos e citações conforme a tradução da Nova Bíblia Pastoral, Ed. Paulus;
[3] Trecho da música “Nós estamos aqui reunidos”, para, e sobretudo, a Solenidade de Pentecostes;
[4] Frase de Santo Agostinho, citada por Leão XIV, em seu discurso de apresentação como bispo de Roma, em 8 de maio de 2025.