Virtudes Vicentinas

As virtudes vicentinas foram apresentadas por São Vicente como as faculdades da alma de toda a Congregação (RC, II,14). “As cinco limpidíssimas pedras de Davi, com as quais em nome do Senhor dos Exércitos venceremos o infernal Golias” (RC, XII, 12). Conhecer as Cinco Virtudes Vicentinas é essencial para aqueles que desejam trilhar o caminho espiritual de São Vicente de Paulo. A partir da leitura e vivência das máximas do Evangelho, São Vicente selecionou cinco virtudes que devem emoldurar o caráter daqueles que desejam trabalhar na evangelização dos pobres, através do Carisma Vicentino: Simplicidade, Humildade, Mortificação, Mansidão e Zelo Apostólico.

 

SIMPLICIDADE

Para São Vicente a simplicidade educa-nos na capacidade de desenvolver os valores da verdade, da sinceridade e da transparência. Por esta virtude somos chamados a ser simples.

Assim o expressa numa carta a Francisco du Coudray, em 6 de novembro de 1634: “Você sabe que a bondade de seu coração me deu, graças a Deus, a liberdade de lhe falar com toda confiança e sem nada lhe ocultar; creio que sabe disso pela minha conduta com você. Jesus, meu Deus! Terei que reconhecer com pena algo do que disse ou fiz contra a santa simplicidade? Deus me guarde, padre, de agir assim com alguém. É a virtude que mais aprecio e na qual ponho mais atenção em meu proceder, segundo creio; e, se me é permitido dizê-lo, diria que obtive alguns progressos na prática desta virtude, pela misericórdia de Deus” (I, 310s).

“Pelo que se refere a mim, não sei, mas parece-me que Deus me deu um gosto tão grande pela simplicidade, que eu a chamo meu Evangelho. Sinto uma devoção especial e consolo ao dizer as coisas como são” (IX,546).

O missionário, à imitação de Cristo, deve ser simples nos seus discursos, “se quer que o povo o entenda, quando anuncia a Palavra de Deus” (XI,347 – conselhos ao Pe. Antônio Durand, 1656).


HUMILDADE

A humildade, definida do São Vicente, é a virtude que é essencial a missão vicentina. É aquela que torna capaz de reconhecer e admitir nossas fraquezas e limitações, confiando, desta forma, mais em Deus. É a virtude que permite aos pobres aproximar-se de nós. É a virtude que nos ajuda a ver que todos somos iguais aos olhos de Deus.

Escreve a Férmin Get a 8 de março de 1658: “Não digamos: eu fiz tal ato bom, porque devemos fazer tudo em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo” (VII,91). “Tenha muito cuidado em nada atribuir a si mesmo. Se fizer assim, comete latrocínio e causa injúria a Deus, que é o único autor de todo bem”, escreve a Santiago Pesnelle a 15/10/1658 (VII,250).

Em uma carta a Carlos Nacquart de 22/03/1648 escreve falando sobre a graça da vocação: “Somente a humildade é capaz de receber esta graça. A ela deve seguir um total abandono de tudo o que você é e de tudo o que poderia ser junto com uma suprema confiança no soberano Criador” (III,256).

“Concede-nos que a humildade seja a virtude característica da Missão. Oh! virtude santa, como sois bela! Oh! Pequena Companhia, como sois digna de amor, se recebeis a graça de Deus” (XI,489). É também a virtude característica da Filha da Caridade (IX,1069).

“É a virtude de Jesus Cristo, a virtude de sua santa Mãe, a virtude dos maiores santos, e finalmente é a virtude dos missionários” (XI,745).

“Que será da Companhia se viveis em humildade? Fareis desta pequena Companhia um paraíso, e as pessoas dirão que este é um dos grupos mais felizes do mundo” (IX,1000).

“... nossa finalidade são os pobres, a gente vulgar do povo; se não nos acomodamos a eles, não os poderemos servir em nada; o meio pelo qual podemos tornar-nos úteis é a humildade, porque a humildade faz com que nos ‘aniquilemos...’” (XII,305. Conf. De 22/8/1659).

“Já é algo que alguém se afeiçoe particularmente a este desprezo de si mesmo, porém não basta: é necessário afeiçoar-se também ao desprezo pela Companhia. Não basta que aceitemos as humilhações cada qual em particular; devemos aceitá-las em geral, contentes de que se diga que a Missão é inútil na Igreja, que é composta de alguns pobres homens...” (XII, 203 – Conferência de 18/4/1659)


MANSIDÃO

São Vicente dizia que a mansidão se entende como a força, a virtude que permite a pessoa a moderar, razoavelmente, sua ira e indignação. É a virtude que ajuda a construir a confiança de uns nos outros, porque, quando somos amáveis, os que são tímidos se abrirão em relação a nós.

São Vicente escreve a Luísa de Marillac a 1º de novembro de 1637: “Se a doçura do seu espírito precisa de um pouquinho de vinagre, peça-o emprestado a Nosso Senhor. Oh! Mademoiselle, como Ele sabia encontrar o acridoce, quando necessário!” (I,408).

Escreve a Dionísio Laudin, superior de Lê Mans, a 7 de agosto de 1658: “Assim pois, padre, pode continuar com ele, fazendo-o guardar o que pode do regulamento, conforme o espírito de Nosso Senhor, que é ao mesmo tempo suave e firme. Se não se ganha uma pessoa pela mansidão e pela paciência, será difícil ganhá-la de outro modo” (VII,197)

“Não há pessoas mais constantes e mais firmes no bem do que os que são mansos e pacíficos; pelo contrário, os que se deixam levar pela cólera e pela paixão dos desejos irascíveis, são geralmente muito inconstantes, porque agem pelos ímpetos e impulsos. São como as correntezas, que só têm força e violência nas enchentes e secam logo após ter passado o temporal, enquanto que os rios, que representam as pessoas pacíficas, correm sem ruído, com tranqüilidade, sem jamais secar” (XI,752).

“... são as pobres gentes que vem a se confessar, toscos, ignorantes, tão fechados e, por assim dizer, tão animais, que não sabem quantos deuses há e nem quantas pessoas em Deus; ainda que se lhes diga cinqüenta vezes, no final continuarão sendo tão ignorantes como no princípio... Se alguém não tem mansidão para agüentar a sua rusticidade, que poderá fazer? Nada; ao contrário, assustará essas pobres gentes” (XII, 305 – Conferência de 22/8/1659).


MORTIFICAÇÃO

Esta é a virtude que nos pede para que entreguemos ao trabalho vicentino. Devemos nos entregar aos Pobres. Com a mortificação conhecemos o altruísmo.

“Padres, tenhamos sempre este exemplo diante dos nossos olhos e nunca percamos de vista a mortificação do Senhor, e que estamos obrigados a nos mortificar, para podermos segui-lo. Ponhamos nossos afetos sobre os seus, para que seus passos sejam a regra dos nossos no caminho da perfeição. Os santos são santos por terem seguido suas pegadas, por saberem renunciar a eles mesmos e por se terem mortificado em tudo” (XI,524).

“Outro meio, minhas filhas, que as ajudará muito na oração, é a mortificação. São duas irmãs tão estreitamente unidas que nunca estão separadas. A mortificação vai na frente e a oração a segue; de modo que, minhas queridas irmãs, se quereis ser mulheres de oração, como é necessário, tereis que aprender a vos mortificardes” (IX,391).

“Em relação ao que você me propôs a respeito de trabalhar seriamente para mortificar o juízo e a vontade dos seminaristas”, escreve São Vicente a Pedro de Beaumont, “dir-lhe-ei, senhor, que isto não se pode fazer de uma vez, mas pouco a pouco, com mansidão e paciência. A mortificação, como as outras virtudes só se adquire por meio de atos repetidos” (V,415s).


ZELO

Pode ser identificado como a paixão pela humanidade. É a paixão de Jesus pela humanidade e, em especial, pelo Pobre. O zelo é a virtude missionária, pois expressa a vontade de evangelizar independente das circunstâncias.

“Peçamos a Deus que dê à Companhia esse espírito, esse coração que nos faz ir a qualquer parte, esse coração do Filho de Deus, coração de Nosso Senhor, coração de Nosso Senhor que nos dispõe a ir como ele iria e como teria ido se sua sabedoria eterna tivesse achado conveniente ir para trabalhar pela conversão das pobres nações. Para isso ele enviou seus apóstolos e nos envia como a eles, para levar seu fogo a todas as partes” (XI,190.281.590).

“Vejam, meus padres e irmãos, devemos ter em nosso interior esta disposição, e até este desejo, de sofrer por Deus e pelo próximo, de nos consumirmos por eles. Oh! quão felizes aqueles aos quais Deus concede estas disposições e desejos! Sim, padres, é preciso que nos ponhamos totalmente a serviço de Deus e a serviço do povo; temos de nos entregar a Deus para isto, consumirmos-nos por isto, dar nossas vidas por isto, despojarmos-nos para nos revestirmos de novo; ao menos, querer estar nesta disposição, se ainda não a temos; estar dispostos e preparados para ir aonde Deus quer, seja às Índias ou a outra parte; numa palavra, expormos-nos voluntariamente ao serviço do próximo, a fim de dilatar o reino de Cristo nas almas. Eu mesmo, embora já seja velho e de idade, não deixo de ter dentro de mim esta disposição e estou inclusive disposto a ir às Índias para ali ganhar almas para Deus, mesmo que tenha de morrer no caminho ou no navio” (XI,258.158.292).

Insiste com Luísa de Marillac (I,1158): “Tenha cuidado de conservar sua saúde por amor a Nosso Senhor e de seus pobres membros, e evite trabalhar demasiado. É uma astúcia do diabo que engana muitas almas boas, levando-as a fazerem mais do que podem, para que logo não possam fazer nada”.

 

Últimas Notícias