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Salve, Pe. Lauro Palú! 19 de Abril de 2023 Algumas palavras em memória ao querido amigo e missionário vicentino Ir. Adriano Ferreira Silva, CM
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Poeta. Fotógrafo. Cientista. Educador. Formador. Missionário. Padre Lauro Palú foi um humanista com H “maiúsculo”. Isso porque sabia de tudo um pouco e muito de muita coisa. Hoje nos reunimos aqui, nesta eucaristia, para rememorar e, por que não, celebrar a sua vida. E quantas memórias ele nos deixa. Tem tanta coisa para falar sobre o Padre Lauro, que não sei direito nem por onde começar. Talvez seja bom dizer um pouco acerca de algumas das coisas que ele fez ao longo de sua vida. Não vou me ater ao rigor das datas e tenho certeza que vou esquecer coisas importantes.

Sei que ele trabalhou como formador nos seminários de Mariana e Aparecida. Foi diretor do Colégio São Vicente de Paulo por mais de vinte anos, somadas as duas passagens. Foi Assistente Geral da Congregação da Missão por dois mandatos, quando morou em Roma, por 12 anos. E nos seus últimos anos, foi superior do lugar que mais amou na vida, o Santuário do Caraça. Realizou outros tantos trabalhos na Congregação, pregou incontáveis retiros, escreveu centenas de conferências, publicou inúmeros artigos em jornais e revistas diversos. Enquanto Assistente Geral rodou o mundo e por onde passou deixou sua marca. Gostava de contar histórias pitorescas, por exemplo, sobre como andou de motáxi no trânsito caótico de Hanoi, no Vietnã; ou sobre quando celebrou a eucaristia debaixo de um baobá, em Moçambique. Como gostava de contar histórias, causos e piadas! As noites de vigília a espera do lobo guará no Caraça nunca mais serão as mesmas sem o seu "Guará, Guará, Guarazinho”. O certo é que por trás do semblante sério, o Padre Lauro era uma pessoa de boa prosa, afetuoso e querido por todos. Quem não se lembra dele ao pé da escada do CSVP, dizendo bom dia, bom dia?

Na boca do Padre Lauro tudo se transformava em poesia. Era um escritor de rara fineza de estilo. Quem não se lembra dos belíssimos textos que compartilhou conosco, seja na semana pedagógica, ou introduzindo as apresentações dos grupos de teatro e dos corais? Poeta também da imagem, a partir do seu olhar o mais desinteressante dos homens, a formiga mais desconjuntada, o liquém mais esquecido, o lobo mais tímido, tudo se convertia em arte fotográfica. Convivendo com o Padre Lauro, aprendi como era bom ler o mundo por meio daquilo que ele dizia, aprendi como era bom ver o mundo através de suas lentes.

Trabalhando com o Padre Lauro, no Colégio São Vicente, aprendi que ser professor é pouco, porque o professor apenas ensina. Que ser educador, também não basta, porque o educador ensina e aprende, mas para por aí. É preciso ir além, temos que nos transformar em formadores. Ensinando, aprendendo e dando o exemplo. Aprendi que nunca devemos impor limites a ninguém, mas devemos estimular o crescimento de todos. Aprendi que nunca devemos falar “dos" outros, mas “com” os outros, a passar do espírito de crítica ao espírito crítico, do espírito de contradição à colaboração; ser imaginativo e criativo para superar os problemas; ver as dificuldades como forças de resistência, cuja direção tentaremos mudar, para que nos ajudem. Ver as coisas com esperança, otimismo, idealismo e fé.

Faz uma semana que Padre Lauro cumpriu o seu destino, e junto dele, seu desejo de ser enterrado no Caraça (não nas Catacumbas, onde segundo ele, é escuro, frio e tem escorpião, mas no Cemitério das Sampaias, onde bate sol e ele poderia ouvir o canto dos pássaros). Ainda em 2005, deixou este desejo de descansar no Caraça impresso num belíssimo poema, intitulado Nesta Casa, do qual transcrevo o trecho final, aqui:

 

"E espero morrer aqui,

mesmo que o corpo, coitado,

caia num outro lugar.

 

Tragam para cá meus olhos,

deixem aqui minhas mãos,

plantem meus pés neste chão.

 

E sentirão como, aos poucos,

irá voltar a bater

meu coração, encantado."

 

Padre Lauro, hoje estamos aqui, agradecidos por sua presença entre nós, ao longo dos seus 83 anos terrestres. Por meio de nós, aqui presentes, por meio dos que te amam e que não puderam vir e pelos que não te conheceram, mas que ainda ouvirão falar de você, você será eterno. Um terno presente sempre entre nós. Salve, Padre Lauro!

 

* Texto produzido para homenagear Pe. Lauro Palú, CM,  por ocasião da Missa de 7º dia do seu falecimento.

** Fotografia: Ir. Adriano Ferreira, CM

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