Prestes a deitar, recebo a notícia inesperada do falecimento de Ir. José Lázaro Dias, da Congregação da Missão, com quem pude conviver por quatro anos. Invadiu-me um profundo silêncio, fazendo aflorar a grata recordação de sua pessoa humilde, simples e mansa. Não sou capaz de narrar seus feitos, porque já o conheci mais debilitado em sua saúde e mais limitado em suas disposições laborais. Mas creio poder testemunhar o que de mais importante um homem pode almejar e oferecer: a bondade. Sim, esta era a marca que Ir. Lázaro imprimia por onde passava: a bondade que se irradiava de seu coração e cativava a quem dele se acercava.
Era um homem bom, uma presença de paz, uma companhia agradável, incapaz de uma palavra ofensiva, de um comentário capcioso ou de um gesto repulsivo. Era um homem de fé, convicto do valor da oração, assíduo aos exercícios de piedade, desejoso de crescer sempre mais no amor ao Senhor. Nada o entusiasmava mais do que lembrar sua longa passagem de 25 anos pela Paróquia de Santa Vitória, no Triângulo Mineiro, onde lhe foi dado atuar em várias frentes apostólicas e onde deixou muitos amigos.
Dotado de talentos artísticos, notabilizava-se em preparar as peças teatrais que enriqueciam as solenidades litúrgicas e em restaurar imagens sacras. Rejubilava quando podia escutar e aconselhar a quem o procurava para um colóquio. De todas as recordações que guardo de nosso Irmão, uma me resulta particularmente cara: cada noite, concluída a jornada pastoral, ao chegar à casa paroquial, sentávamo-nos à mesa da cozinha – ele, Maria e eu – para tomar um lanche e conversar descontraidamente. Também ali, desvelava-se a largueza de seu bom coração.
Hoje, despedimo-nos de Ir. Lázaro. E o fazemos iluminados pela fé na Ressurreição. Afinal, “se é para esta vida que pusemos nossa esperança em Cristo, nós somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão” (1Cor 15,19). É outra agora a mesa a que ele se assenta, a mesa da plena saciedade, do banquete da eterna alegria, da paz que não passa, da luz que não declina, da vida que não morre mais. Um dia, haveremos de chegar lá também nós, quando, enfim, for consumada a esperança que agora nos mantém de pé. Então, sentaremos novamente à mesma mesa. E não mais teremos que despedir-nos. Conforte-nos a comovente intuição poética de Adélia Prado, de Divinópolis, terra de adoção de nosso já saudoso Irmão: