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Dia dos fiéis defuntos 02 de Novembro de 2023 Pe. Michel Araújo Silva, CM
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O mês de novembro inicia-se com um profundo significado existencial para os católicos. No primeiro dia, fazemos memória daqueles que nos precederam e hoje contemplam a Glória de Deus (a solene liturgia é celebrada no domingo seguinte). É a Igreja Triunfante. No dia seguinte, celebramos aqueles que, por assim dizer, formam a Igreja Padecente: os fiéis defuntos. Para muitos o dia é marcado por saudade e dor, onde a fé e a esperança se tornam consolação. Nesse sentido, é importante cultivar no coração a seguinte verdade: não importam mais as fragilidades da pessoa que se foi. O Verbo assumiu nossas fragilidades humanas para redenção. Não importa mais o que ficou incompleto na vida daquele que se foi, quando Deus nos colhe, nos abraça no caminho da vida, onde nós estamos é perfeito o caminho.

Nestes dias que nós, Igreja Peregrina, unimo-nos à Igreja Triunfante e Padecente, além de rezarmos por todos, somos convidados a refletirmos sobre nossas vidas. "Ensinai-nos ó Senhor a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria" (Sl 90, 12). É bem certo que a vida é uma caminhada para a morte e que, de certa forma, devemos morrer um pouco todos os dias. Sendo assim, como estamos vivendo?

Há algumas expressões que nos parecem um pouco repetitivas, como quando se fala que vivemos numa cultura do hedonismo e do narcisismo, numa sociedade do espetáculo, do individualismo e do egoísmo, num mundanismo espiritual, entre tantas outras coisas que nos ocorrem. Todavia se essas expressões, como tantas outras, soam-nos como repetitivas, talvez seja porque se tornaram muito presentes em nossas vidas e culturas. Basta olhar ao redor, ou para dentro de nós, que encontramos, cada vez mais acentuada, uma preocupação com a estética, com o consumo, com o bem-estar. As pessoas estão cada vez mais autocentradas, preocupadas com coisas superficiais e esquecendo os elementos mais significantes da existência. Estamos vivendo uma epidemia velada. A depressão, a ansiedade e a perda de sentido têm atingido muitas pessoas.

Por um lado, estamos cada vez mais expostos nas inúmeras mídias digitais. Por outro lado, preocupamo-nos com as avaliações alheias. A vida parece ter se tornado um desatino, um burburinho. Vai sendo vivida motivada por uma agitação. Agitação da busca. Busca por ter, por prazer, por parecer e aparecer. De modo que o presente não é vivido, mas, ansiosamente só se vive no futuro e (como bem ilustra Mário Quintana) "quando se vê, já se passaram 50 anos"!

Que não desperdicemos uma vida toda correndo atrás do vento (Ecl 2,17). Que os vazios existenciais que por vezes, chegam até nós, possam ser preenchidos de uma maneira lúcida, sem perder de vista os ideais e as convicções. Que, deparando-nos com o drama da fragilidade da vida e com a certeza da morte, possamos viver mais conscientes. Que nossa vida se torne, verdadeiramente, dom de Deus para nós e para os que nos cercam.

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