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Os Desafios da Congregação da Missão para um futuro promissor 26 de Janeiro de 2024 Pe. Jean Rolex, CM
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Ao iniciar um novo ano, todos nós, a nível pessoal, geral ou grupal, costumamos traçar novos caminhos e colocar novos desafios para as nossas vidas que vão desde pequenos objetivos até grandes ideais. Também hoje, a humanidade enfrenta desafios urgentes para um futuro melhor, desafios que incluem problemas ecológicos[1] e conversão ecológica global[2], bem como a necessidade de eliminar as causas estruturais responsáveis pelas disfunções da economia mundial e de corrigir modelos de desenvolvimento que parecem incapazes de garantir o respeito pelo ambiente[3]. Precisamos também enfrentar as alterações climáticas, o aquecimento global; o fraco acesso à água potável para todos, a perda de biodiversidade na natureza[4] e o fosso crescente entre as classes sociais, dentre outras situações sociais extremas que exigem atenção.

Da mesma forma, no início do ano, a Congregação da Missão, que peregrina no mundo a serviço dos pobres, estabelece objetivos e propostas que a mantém motivada, criativa, entusiasmada e fortalecida. Esta reflexão resume e explica os desafios mais importantes que entendemos que a Congregação deve enfrentar e superar para avançar e melhorar o seu futuro. Recentemente, a Congregação da Missão realizou a sua 43ª Assembleia Geral, sob o tema: “Revitalizando a nossa identidade no início do quinto centenário da Congregação da Missão”. Parece-nos essencial voltar ao Documento Conclusivo da referida Assembleia, pois ele nomeia os grandes desafios que a Congregação pretende superar para avançar para um futuro promissor.

O primeiro desafio é “revitalizar a nossa identidade vicentina”, ou seja, dar vida à nossa espiritualidade, ao nosso estilo de vida e aos nossos ministérios. Mas, a revitalização da nossa identidade passa necessariamente pela reconexão com as nossas raízes, com as origens da nossa espiritualidade e carisma [5]. O que significa então nos reconectarmos com nossas raízes? Significa: interessar-se novamente, ler e rezar com as nossas Regras Comuns, as nossas Constituições e Estatutos. Estes são documentos fundamentais na vida de um missionário. Refletem a espiritualidade e o carisma que Vicente de Paulo nos deixou. São livros qualificados para nos inspirar e nos guiar para um futuro promissor. Agora: até que ponto, como Congregação, nos deixamos inspirar e guiar por eles? Reservamos tempo para lê-los? Quanto sabemos sobre eles? Hoje em dia, e por diversas razões, muitos missionários não leem o suficiente, fazendo com que muitas vezes se esqueçam da beleza da nossa espiritualidade, da nossa identidade e da nossa missão. É urgente, portanto, recuperar o gosto pela leitura entre os missionários, especialmente entre os mais jovens. Ninguém ama o que não conhece. Portanto, se quisermos nos apaixonar pelo nosso carisma, temos que conhecer bem as nossas Regras Comuns, as nossas Constituições e Estatutos. Estas respondem ao que a Congregação pensa de si mesma e como quer apresentar-se hoje na Igreja: uma Congregação que busca a perfeição na caridade. Que eles nos guardem e nos conduzam com segurança ao fim desejado!

O segundo desafio é a necessidade de redescobrir a beleza da missão e a sua importância na vida da Igreja e da “Pequena Companhia”. Nossa Congregação nasce e vive da missão. Mas, à medida que o nosso mundo se torna cada vez mais secularizado, individualista, permissivo, relativista, materialista, hedonista e consumista, vemos tristemente que a “Pequena Companhia” é consideravelmente atenuada na sua tarefa de evangelizar o mundo. Atualmente, há na nossa Congregação um enfraquecimento da convicção missionária e uma escassez de santidade entre os nossos missionários[6]. Sem darmo-nos conta, estamos sendo absorvidos pelo mundanismo, pelo pessimismo e pela preguiça espiritual[7] que contaminam os missionários. O que fazer sobre esse problema? O Santo Padre nos aconselha: urgente conversão missionária e compromisso com a santidade[8]. A missão continua urgente. O mundo precisa de Cristo evangelizador dos pobres. A missão pode salvar a nossa vocação e a nossa identidade. A missão tem o poder de transformar. Recuperamos, então, entre nós o mesmo amor e desejo de São Vicente pela missão.

Um terceiro desafio diante da Congregação é recuperar a beleza da nossa vocação diante de uma cultura muitas vezes controlada pelo que é externo, pelo que é imediato, pelo que é visível, pelo que é rápido, pelo que é superficial, pelo que é provisório. Em que consiste essa beleza da nossa vocação? A beleza da nossa vocação consiste no fato de que a missão de Cristo é a nossa própria missão, o seu carisma é o nosso próprio carisma e a sua espiritualidade é a nossa própria espiritualidade (cf. XI, 383). Uma vocação de tamanha beleza deve ser encorajada, protegida e promovida, especialmente entre os mais jovens. Não há dúvida de que Deus continua chamando. Mas, como Congregação, temos que cultivar as vocações e construir “uma cultura vocacional”. A cultura vocacional é um conceito que está em voga na nossa Congregação. No entanto, o que especificamente fazemos para criá-lo? Que mudança profunda estamos dispostos a fazer para favorecê-lo? O sucesso e o crescimento das vocações dependerão das mudanças profundas que a nossa Congregação estiver disposta a fazer, não apenas mudanças estruturais, mas também mudanças que influenciem a forma como vivemos a nossa fidelidade a Cristo evangelizador dos pobres e a nossa identidade vicentina. Sem a fidelidade da Congregação à sua própria vocação, qualquer esforço ou mudança na pastoral vocacional não daria verdadeiros frutos.

Os desafios mencionados são complementares e conhecidos pela maioria dos missionários. Agora, como queremos enfrentá-los? Que papel pode desempenhar o fator tempo nesta revitalização da nossa identidade? Como o fator tempo condiciona a qualidade da nossa espiritualidade, do nosso estilo de vida e da nossa missão? Reservamos um tempo para parar e realmente encontrar Deus e os outros em oração? O que fazemos realmente nos leva a um relacionamento mais profundo com Cristo? Reservamos tempo suficiente para conhecer a vida intercultural da nossa Congregação?  Aceitamos bem outras pessoas que vêm de uma cultura diferente? Será que nos preocupamos o suficiente para tentar reler a história das pessoas que compõem a nossa Congregação?

Definitivamente, se quisermos realmente superar os desafios colocados, devemos dedicar tempo a eles e parar para refletir, a partir de Cristo e do carisma vicentino, sobre o que estamos fazendo e como estamos fazendo. É importante também que recordemos aqueles momentos do nosso encontro com a Congregação da Missão e dela conosco. A recordação desses momentos será a fonte da qual obteremos forças para continuar dedicados à missão de Cristo, evangelizador dos pobres.


Notas 

[1] Paulo VI (1971). Carta Apostólica Octogesima adveniens, em https://www.vatican.va/.

[2] João Paulo II (2001). Catequese sobre o compromisso de evitar a catástrofe ecológica, em https://www.vatican.va/.

[3] Bento XVI (2007). Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, em https://www.vatican.va/.

[4] Francisco (2015). Carta Encíclica. Laudato Sì, em https://www.vatican.va/.

[5] Tomas Mavric (2022). Reflexão para a Assembleia Geral de 2022, Vicentina, 66 (3a 4), 375-387.

[6]Rolando Santos (2022). A Missão Ad Gentes e a Identidade da Congregação da Missão. Vicentina, 66 (3a4), 409-417.

[7] Francisco (2013). Exortação Apostólica. Evangelii Gaudium, em https://www.vatican.va.

[8] Ibid.

* Texto original publicado em cmglobal.org
* Versão em português por Padre Eli Chaves dos Santos, CM
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