Artigo
            Informações             Artigos      
Quais guerras escolhemos lutar? 23 de Fevereiro de 2024 Ir. Adriano Ferreira Silva, CM
A a     

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. (Carlos Drummond de Andrade)

Por ocasião da benção Urbi et Orbi deste Natal, o Papa Francisco demonstrou toda sua preocupação com os conflitos armados e guerras que assolam a humanidade nos tempos atuais. “O povo, que não quer armas mas pão, que tem dificuldade em acudir às despesas quotidianas, ignora quanto dinheiro público é destinado a armamentos. E, contudo, devia sabê-lo! Fale-se disto, escreva-se sobre isto, para que se conheçam os interesses e os lucros que movem os cordelinhos das guerras”, declarou o Sumo Pontífice. Segundo a Organização das Nações Unidas, em 2023 encontram-se ativos dezenas de conflitos armados em todo o mundo, especialmente na Ásia e na África. Destes conflitos, oito são classificados como guerras.

São Vicente se tornou o Grande Santo do Grande Século a partir da sua diligente atuação durante as guerras que dizimaram boa parte do interior da França, no século XVII. Durante a Guerra dos Trinta Anos e também durante as Frondas, o Pe. Vicente atuou como um verdadeiro general cujas tropas compunham um poderoso exército, que marchava empunhando tão somente as armas da fé e da caridade. É certo que Vicente não era um comandante de escritório, atuava na linha de frente junto aos padres, irmãs e voluntários leigos que compunham suas fileiras de bravos soldados. Sua mais importante batalha era minimizar o sofrimento dos pobres mediante às graves consequências dos conflitos. Um grande exemplo disso é que Vicente fez da sua própria casa, São Lázaro, um verdadeiro centro de atendimento aos refugiados de guerra. Isso pode ser confirmado a partir de uma carta que São Vicente escreveu em junho de 1652, a um de seus padres na região da Alsácia-Lorena, quando ele descreve algumas das ajudas prestadas em Paris:

“Sopas distribuídas diariamente a quinze ou dezesseis mil pobres; oitocentas ou novecentas moças recolhidas em boas casas e alimentadas; em São Lázaro são hospedados os vigários, coadjutores e outros padres que tiveram de abandonar as paróquias e fugir para Paris; chegam novos padres, todos os dias, e aqui são exercitados nos deveres, que devem saber e praticar. Eis como Deus permite que participemos em tantas boas obras. As pobres Irmãs de Caridade trabalham mais do que nós no serviço corporal dos pobres. Elas distribuem sopas, diariamente, a mais de mil e trezentos pobres, na casa-mãe. Na paróquia de Saint-Denis a oitocentos refugiados, e na paróquia de São Paulo a quinhentos pobres, além de oitenta doentes. Em outros lugares fazem o mesmo. Peço-vos que rezeis por elas e por nós.”

No Brasil não há guerra. Mas há conflitos armados e desarmados que exigem nossa atenção como vicentinos. Nossa principal batalha é contra a pobreza. A insegurança alimentar atinge milhões de famílias em todo país, a falta de moradia é outro problema grave, não podemos esquecer da situação precária de boa parte da nossa educação pública. Também precisamos estar atentos aos preconceitos e discriminações de toda ordem, que matam tanto quanto as guerras declaradas, é nosso trabalho atuar contra essas práticas. As perguntas que ficam para nós hoje são: Quem somos nós no exército vicentino hoje? Quais guerras escolhemos lutar?

* Texto originalmente publicado no Informativo São Vicente Ed. 325, leia a edição completa aqui.
Compartilhe este artigo:
Nome:
E-mail:
E-mail do amigo:
Últimas Notícias